quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Crónica - Um egoísmo altruísta

A Maria chegou mais tarde. Ainda teve de fugir, estrategicamente, de um encontro "Aii o meu sobrinho está no hospital. Ligo-te depois". Nunca ligava. Mas todos tinham respondido ao meu SOS. Até o Afonso, que não se deixava ver há meses, se descolou dos relatórios e dos gémeos e apareceu. Os gémeos já tinham 2 anos e hoje ficaram com a avó. Ficaram com a avó mais de uma semana porque ele aceitou a missão de dogsitting, com os 4 cães da Guida, enquanto ela foi descobrir o namorado, em Paris, com outra.
O Afonso é daquelas pessoas que não conseguem dizer que não. É como eu. Adorava ser menos altruísta e conseguir dizer um redondo NÃO, quando não posso mais. Mas não consigo.

O assunto exigia seriedade e todos o entenderam pelo tom da minha voz, na convocatória. Por isso, todos compareceram. Reunidos, anunciei que ia abandonar toda a vida pessoal e profissional que havia, até então, construído, onde todos se incluíam, para de forma pseudo-definitiva e altamente altruísta me mudar, pseudo-definitivamente, para África. "Nigéria, mais concretamente".

"Endoideceste??", "Queres apanhar malária?", "Tu nem podes ver uma aranha!","E a tua carreira?", "Sim, não foste promovida há 3 meses??", "Para que achas que te querem lá?", "E o João?", "E a tua mãe??", "Com quem vou almoçar às quartas?"
Apesar de toda a "preocupação" dos meus amigos não me senti nem um pouco demovida nas minhas convicções. Precisavam lá de mim, e eu ia. Mas deixava cá tanta coisa...
Liguei para a instituição de voluntariado: "Desculpe, mas não consigo!". E não fui. Até hoje...


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