Faz, hoje, 6 meses desde que partiste. Hoje, dia 6, desde que entraste naquela clínica veterinária e já não saíste. A mesma clínica onde tínhamos ido, de urgência, uns meses antes, quando começaste com os sintomas. A mesma clínica onde tivemos de ir, todos os dias, nos dias seguintes. À porta, enquanto esperávamos, aquela velhota sentenciou-te logo: "o meu cão morreu disso"!
Hoje, passados 6 meses, continuo a entrar em casa de olhos postos no chão, à espera que apareças; continuo a deixar um restinho de pão ou de fruta para que tu devores sem sequer cheirares; continuo a achar que às 19h te tenho de ir passear; continuo à espera que, a cada manhã, estejas deitado, como sempre, aos pés da minha cama; continuo a olhar para os teus brinquedos certa de que não brincámos o suficiente; continuo a chamar-te quando me sinto triste...
Mas sempre foste tão independente e fiteiro, tão teimoso e manipulador, tão ciumento e fiel, tão desobediente e lutador, tinhas tantas manhas e manias...e apenas não gostavas de ficar sozinho! Fechar-te na cozinha significava Noite de St. António - expressão utilizada pelos meus pais para noites sem dormir - raspavas a porta incansavelmente, saltavas, uivavas desesperado até que alguém te ia abrir a porta e tu saías airoso ou, por outras, o meu pai ia lá pôr-te na ordem porque "cão é cão".
Mas era espantoso como entendias tudo o que dizíamos, como sabias sempre quando estávamos a falar de ti, como sabias sempre quando íamos sair e ficavas sozinho, como sabias sempre quando tinhas feito disparate e te ias esconder atrás da minha mãe, como eras corajoso e pateta por rosnares a qualquer cão com o dobro do teu tamanho, como ladravas, furioso, a qualquer alminha que se aproximasse do portão, como eras apaixonado por maçã; como, só com o olhar, conseguias tudo aquilo que querias, fosse comida, ir à rua, ou dormir no sofá novo; como gostavas que estudasse em voz alta para ti, como te apercebias dos momentos de tristeza e alegria e conforme estes te comportavas...
Faz, hoje, 6 meses desde que partiste, desde que te fiz a última festinha e te dei o último beijo. Fisicamente, claro.
"Um cão nunca abandona o dono. Mesmo que não te veja, sei que estás aí: é quanto me basta"*
"Não era um cão como os outros. Era um cão rebelde, caprichoso, desobediente, mas um de nós, o nosso cão, ou mais que o nosso cão, um cão que não queria ser cão e era cão como nós"
*Manuel Alegre, 'Cão como nós'
Hoje, passados 6 meses, continuo a entrar em casa de olhos postos no chão, à espera que apareças; continuo a deixar um restinho de pão ou de fruta para que tu devores sem sequer cheirares; continuo a achar que às 19h te tenho de ir passear; continuo à espera que, a cada manhã, estejas deitado, como sempre, aos pés da minha cama; continuo a olhar para os teus brinquedos certa de que não brincámos o suficiente; continuo a chamar-te quando me sinto triste...
Mas sempre foste tão independente e fiteiro, tão teimoso e manipulador, tão ciumento e fiel, tão desobediente e lutador, tinhas tantas manhas e manias...e apenas não gostavas de ficar sozinho! Fechar-te na cozinha significava Noite de St. António - expressão utilizada pelos meus pais para noites sem dormir - raspavas a porta incansavelmente, saltavas, uivavas desesperado até que alguém te ia abrir a porta e tu saías airoso ou, por outras, o meu pai ia lá pôr-te na ordem porque "cão é cão".
Mas era espantoso como entendias tudo o que dizíamos, como sabias sempre quando estávamos a falar de ti, como sabias sempre quando íamos sair e ficavas sozinho, como sabias sempre quando tinhas feito disparate e te ias esconder atrás da minha mãe, como eras corajoso e pateta por rosnares a qualquer cão com o dobro do teu tamanho, como ladravas, furioso, a qualquer alminha que se aproximasse do portão, como eras apaixonado por maçã; como, só com o olhar, conseguias tudo aquilo que querias, fosse comida, ir à rua, ou dormir no sofá novo; como gostavas que estudasse em voz alta para ti, como te apercebias dos momentos de tristeza e alegria e conforme estes te comportavas...
Faz, hoje, 6 meses desde que partiste, desde que te fiz a última festinha e te dei o último beijo. Fisicamente, claro.
"Um cão nunca abandona o dono. Mesmo que não te veja, sei que estás aí: é quanto me basta"*
"Não era um cão como os outros. Era um cão rebelde, caprichoso, desobediente, mas um de nós, o nosso cão, ou mais que o nosso cão, um cão que não queria ser cão e era cão como nós"
*Manuel Alegre, 'Cão como nós'
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